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Mais que tolerância, hospitalidade

 “Ela [a intencionalidade, a consciência-de] é atenção à palavra ou acolhimento do rosto,hospitalidade e não tematização.”(E. Lévinas, in DERRIDA, Jacques. Adeus a Emmanuel Lévinas. São Paulo: Perspectiva, 2008. p. 40)

O discurso pela tolerância parece soar antiquado, muito batido e desgastado, mas é um assunto que deve estar na ordem do dia de todos nós. De qualquer forma, as atitudes de tolerância fazem parte e são a força do mundo político. As relações diplomáticas entre as nações e seus representantes soberanos se assentam em atitudes de tolerância, sem as quais seriam impossíveis o diálogo e o entendimento para a paz.

Em momentos de crise como esses, recorremos à Filosofia para repensar sempre quem somos enquanto seres humanos, numa espécie de reminiscência platônica, e reintroduzimos nas relações individuais, sociais, políticas e internacionais um debate sobre a tolerância, a compaixão e a ética. A compaixão vem acompanhada do conceito de empatia, sentir com, entendido como uma solidariedade profunda pelos outros, sentir o que o outro sente, sentir o sofrimento do outro, sentir sua cultura, suas adversidades, sentir sua pele, sentir a língua falada e escrita, sentir a música do outro, sentir o som do outro, sentir a história uns dos outros.

Para isso, como pensa e age o ser humano a fim de pensar e agir com os outros, juntos? Eis aí o maior desafio da humanidade. Procurarmos uma forma sábia de vida juntos, sem nos odiarmos e sem nos matarmos, implicaria assumir um compromisso com a tolerância, mais do que isso, com a hospitalidade.

O ideário de valores mais reconhecido do humanismo moderno se formou a partir da Revolução Francesa e da Declaração Universal dos Direitos Humanos. De qualquer forma, a educação desses valores vem sendo passada para nós na formação do caráter em casa (vida privada) e na tolerância do espaço público ( escolas, por exemplo).

Segundo a Professora Olgária Matos, no artigo Sociedade: tolerância, confiança, amizade,“‘Educere’ significa ‘conduzir para fora de’, evocando a ideia de itinerário e caminho de um ponto a outro ou de um ao outro. ‘Tolerare’, por sua vez, é levar, suportar e, também, combater. Neste caso, tolerar é esforço para desfazer ortodoxias, revelar a dessemelhança no que parece homogêneo, a fim de que um possa ir ao encontro do Outro.”

Dessa tensão ou do diálogo entre a esfera privada e a esfera pública é que se faz um sujeito tolerante, admitindo um sentimento de emulação contrário ao sentimento de violência, pois, como sempre dizemos, “conhecer o Outro é conhecer melhor a si mesmo”.

Durante muito tempo as potências imperialistas, os países mais ricos do mundo, viraram as costas para os países periféricos, invadindo suas terras, expropriando, explorando seus recursos naturais e suas riquezas. Não que isso seja causa ou justificativa para a promoção do mal, do ódio, do terror ou da intolerância, mas são fatos difíceis de digerir quando o assunto é respeito ao outro, ao diferente e acolhimento de estrangeiros.

Numa época como a nossa, principalmente agora na Europa, onde o cheiro de xenofobia é mais intenso devido aos constantes ataques terroristas, precisamos voltar nossas atenções, nossos esforços para o estrangeiro, para o gesto de acolhida daquele que é diferente.

É aqui que se encontra a superação da tolerância pela hospitalidade, na medida em que um gesto de tolerância não carregue consigo algo de superior, nem mesmo o orgulho de minha bondade sobre a sua. A hospitalidade quer ser mais generosa ainda porque é possível acolher efetivamente o outro, a alteridade, o diferente, e fazer disso um diálogo rico e fértil.

Autor: Prof. Jackislay meira de M. Silva – Filosofo e Teólogo. Novembro de 2015   www.umasreflexoes.wordpress.com