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Por que a Dudalina parou a produção em pleno Natal

É inquestionável o legado que a era industrial deixou ao mundo. Alcançamos as virtudes tecnológicas atuais graças a um modelo econômico mercantilista, focado no trabalho e, principalmente, no lucro. Mas deixou a desejar sobre as questões humanas como qualidade de vida e desenvolvimento social. Hoje, porém, a sociedade chega a uma época em que é necessário rever suas prioridades. Estamos rumando em direção à Era do Conhecimento, da preparação, atualização e valorização das pessoas. E, na divisa entre estes dois tempos, há um paradoxo em que às vezes é preciso optar pelo lucro ou pelo o humano.

Foi nesta fronteira que se encontrou Sônia Hess de Souza, presidente da Dudalina, em novembro do ano passado, quando o estado de Santa Catarina foi atingido por fortes chuvas que literalmente arruinaram diversas cidades. Um destes municípios, Luis Alves, no qual está instalada uma das fábricas da empresa, ficou sem qualquer fonte de energia elétrica. As vítimas da enchente não paravam de chegar ao hospital municipal, que sequer tinha luz para atender seus pacientes. “Luis Alves estava completamente isolada”, explica Sônia. “Uma de nossas colaboradoras inclusive perdeu o bebê”, lamenta. “Havia uma cena muito triste em toda a região”.

Neste momento surgiu um herói local. “Um de nossos funcionários foi de madrugada à unidade, conseguiu um cabo e ligou o gerador da fábrica ao hospital”, conta a empresária. Os funcionários da unidade também ligaram a água do poço artesiano da empresa ao hospital, situado em frente à fabrica.

Poucos dias depois, Sônia, que estava em São Paulo e não conseguia qualquer contato com Luis Alves, foi ao município. Chegando lá, deparou-se com um cenário de desastre, que lhe apresentou o seguinte dilema: parar a produção da fábrica durante o pico de sua produção, na época de Natal, e fornecer eletricidade ao hospital, ou retomar as atividades da unidade, deixando a comunidade sem atendimento hospitalar adequado. “Quem trabalha com moda sabe: quem não entregou no Natal, esquece”, explica.

Mas a empresária demonstrou que está em outro estágio. “Em nenhum momento nós titubeamos”, afirma. “Como o gerador não podia atender ao hospital e à empresa, nós resolvemos fechar a unidade Luis Alves durante 48 dias úteis”, conta.

Sônia explica que, num primeiro momento, o prejuízo foi inevitável, mas que a atitude trouxe reconhecimento e admiração pela empresa. “Houve uma perda financeira, sem dúvida, mas a médio e longo prazo ganhamos muito”, ressalta.

Tentando inspirar outros gestores e empresários a tomarem decisões semelhantes em situações como esta, ela explicou, na palestra Os paradoxos da estratégia na incerteza, ministrada nesta quarta-feira no Conarh 2009, como o retorno veio. “Isso foi notícia nacional, e a imagem da empresa ficou associada a esta atitude”, justifica. “Hoje a gente vê que quando se cuida das pessoas há um retorno fantástico”, conclui orgulhosa.

Autor: Iuri Ribeiro, Fonte: Website Canal Rh – 18/08/09 – http://tinyurl.com/mrlyko